sábado, 19 de janeiro de 2013

Pro gol?





Quando se é filho único, sua infância é um pouco diferente da tradicional. Não é sempre que temos alguém todo o tempo em casa, como aconteceria na presença de um irmão. Quando ouço histórias de irmãos geralmente acho muito interessante, pois é algo que nunca vi na vida.


Mas não é isso que impede que sua infância seja cheia de histórias e lembranças. Como meu pai sempre trabalhou em casa – ele é alfaiate – muitas das peripécias que aprontei tive o Babi do meu lado.

Essa semana, ao procurar um livro no meu armário, encontrei minha coleção de jogos de botão. E vê-los há quase 20 anos sem uso me trouxeram um misto de nostalgia e alegria ao saber que esse divertimento atravessou minha infância e boa parte da adolescência.

Jogar botão era o meu divertimento favorito há 25 anos. E talvez tenha se tornado o predileto porque também foi o de meu pai quando criança. Suas histórias de como criar os botões com vidro de relógio e botões de paletó eram fascinantes. E, em meados dos anos 80, uma vez ele me trouxe dois jogos novinhos, comprados na feira de domingo. Pronto, paixão instantânea.

O futebol de mesa virou uma febre da infância. Comecei a colecionar os times, os botões que comprava já não eram os da feira, e sim algo mais oficial. É claro que tinham os preferidos, os que davam sorte, e os que não gostávamos. Organizar campeonatos era a minha parte favorita, todas aquelas tabelas talvez tenham me levado, mesmo que inconscientemente, à carreira de exatas.

O mais interessante, porém, é que recordo com mais saudades dos fatos que antecediam os clássicos do futebol de mesa. Como meu pai sempre trabalhou até tarde, os encontros futebolísticos aconteciam aos sábados, dia que ele encerrava suas atividades mais cedo. E eu, como desesperado que sempre fui, desde o final da tarde já organizava todos os botões do dia, limpava o campo, separava as tabelas e fazia as estatísticas da rodada anterior.

Lembro que ficávamos sentados em seu quarto de costura conversando sobre todos os assuntos, desde o Corinthians até as noticias que ele ouvia – e ainda ouve – em seu rádio Motoradio que quase sempre o acompanhou (agora ele tem um novinho que veio do Japão).

Com o passar dos anos os botões ficaram pra trás, empoeirados, ásperos, sem vida. Talvez minhas conversas com o Babi também tenham ficado menos frequentes, e um pouco empoeiradas. E como hoje é sábado já me decidi. Talvez não haja jogo, mas vai ser uma delícia levar aquela caixa cheia de botões e sonhos infantis pra seu quarto de costura, deixar tudo preparado, ouvir seu rádio novo, as contratações do futebol, e principalmente, seus conselhos preciosos e ponderados que me fizeram, de maneira muito eficiente, o homem de hoje.

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