quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O prudente



Estranhamente mudou os hábitos. Naquele fim de ano no Caribe, sentou-se na varanda do resort e fez planos... de fazer planos.

Chegou em casa, montou planilhas, definiu metas, resolveu que iria trocar o apartamento. Viagens? Só com programação de um ano, no mínimo. Dívidas de cartão então, nem pensar.

Conversou com o patrão para aumentar seu número de horas extras no trabalho, já que seu happy hour era semanal e não mais diário. Afinal, era mais prudente.

Começou a correr três vezes por semana, ao invés de duas, e deixou a companhia fiel dos amigos de parque, pois todo domingo eles comiam uma massa. E isso não era prudente.

Vendeu sua coleção de carrinhos matchbox que tinha desde 1983, pois julgou que o dinheiro daquelas recordações de infância valeriam mais do que o espaço ocupado na casa de seus pais. Isso sim era prudente.

Porém, veio o acaso. E conheceu a moça dos seus sonhos. Linda, especial, muito à frente de seu tempo. Apaixonou-se. Mas era sua colega de repartição. Lutou consigo mesmo a cada dia para não encontrá-la mais, até mudou de turno. Seus pensamentos ainda o traíam, mas tentou ser forte e nem sonhar com ela. Porque definitivamente isso não era prudente.

E naquele 11 de outubro na sua volta pra casa pelo mesmo caminho de todos os dias - afinal, ele não iria viajar naquele feriado – encontrou-a, e ela não era tão prudente. O acidentefoi inevitável.

Nesse último mês o irmão se mudou para o apartamento recém-comprado para acompanhar as reformas e vender. As passagens pra Europa chegaram pelo correio, programadas para abril do ano seguinte. Estão tentando ainda transferir pros seus pais.

Aquele apartamento alugado no Largo do Machado, no Flamengo, sua demissão no emprego e a transferência dela para um cargo menor encheram-no de dívidas, nem um pouco prudente. E ele é feliz, muito feliz.


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