terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A zona da amizade

Amou. Como nunca. Não era seu primeiro, mas certamente o maior amor. Sabia que ao lado dela passaria toda sua vida. Agradeceria a cada dia por tê-la conhecido naquela festa que não queria ir.

A troca de olhares e a conversa, intermediada pelo colega de classe dela era a melhor coisa que já lhe havia acontecido. Foi uma questão de tempo, pouquíssimo tempo.

Os telefonemas tornaram-se diários, sempre depois daquela série que se passava nos anos 60, e adoravam. Amava encontrá-la, linda como sempre. Os encontros frequentes o faziam sorrir como nunca. Tudo ia maravilhosamente bem.

Assim passava-se aquele verão. Cada conversa sobre assuntos que ele não conhecia era maravilhosa. Mostrou-lhe o rock’n’roll, passou a amar Genesis por causa de Follow You, Follow Me naquele jantar. Ela, mais velha, cheia de sonhos e metas. Ele, um aprendiz quase fanático.

Sentiu que era a hora de declarar seu amor sem fim, mas não o fez. Talvez em um próximo momento. Nada. Dela, um afago, um abraço, era hora de beijá-la. Deixou passar.

E nem o acaso, que geralmente costuma ajudar, talvez não se conformasse. Entraram na pior fase do relacionamento, pelo menos pra ele: a zona da amizade. Implacável, um buraco negro. Uma vez nela, jamais se sai.

Feito! Os assuntos já eram diferentes, comentou que iria com um amigo da faculdade à ópera. Ele se roeu. E o tiro de misericórdia:

- É tão bom ser seu amigo!

Chorou feito criança aquela noite, ouvindo as músicas que eles adoravam.

Viu o cara da ópera na casa dela: chorou. Viu o cara da ópera de mãos dadas com ela em sua festa de aniversário: perdeu o chão. Continuaram amigos, talvez soubesse que vê-la, mesmo nessas condições, fosse um alento.

Ainda tentou demonstrar sua paixão por ela mais algumas vezes, em vão. Se afastar poderia ser um remédio, mas não conseguiu. Encontraram-se anos depois, talvez agora o amor explodisse, mas a zona da amizade não tem prazo de validade. Mais um encontro flat.

E 20 anos depois - mesmo sabendo que uma vez atingido pelo mal não há volta - olha aquelas fotos guardadas junto das suas coisas de colégio com amor, um bocado de amor. Ainda que lhe tirem o chão.

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