domingo, 13 de janeiro de 2013

O catador de papelão

Ter manias não é simplesmente algo que acontece. Geralmente temos noção do que estamos fazendo, e culpa também. Mas a vontade de mudar aparece somente quando a situação nos aperta.

Por algum motivo guardava caixas de papelão. Som, DVD, vídeo game, celular, minha preocupação nunca foi como manusear o produto novo ou onde colocá-los e sim, onde irei guardar a caixa? Cheguei em um nível que abri-las já era motivo de sofrimento, pois onde já se viu rasgar o plástico que as envolve? Mas eu tinha um argumento (não significa que era válido):

- Se eu precisar vender os produtos, ainda tenho a caixa. Será uma supervalorização.

Agora fundo do poço aconteceu com a minha coleção de CDs. Até o lançamento do iTunes, a aquisição de discos era algo muito mais visual do que musical. Os chamados boxsets, edições especiais com encartes enormes, quase um livro, vinham em lindas caixas de papelão. Então, pra que abrir algo tão exclusivo?

A situação precisou chegar ao limite. E foi graças a ele que meu apego acabou.

Viagem de compras. Sou descontrolado e entupi 3 malas, fora as coisas que tive de deixar, pois não cabiam mais...Tive de me livrar à força das caixas, seria um volume muito grande carregá-las.

Obviamente fui parado na alfândega, e graças à ausência de caixas me livrei de muitos transtornos. Lembro da cena surreal: uma mulher abrindo suas malas e todos os seus eletrônicos com caixa caindo pelo balcão ao lado. O olhar do auditor me lembrou o Discovery Channel: o ataque do guepardo ao cervo indefeso.

Me livrar daquele sufoco felizmente me curou.

E foi uma alegria tão grande na viagem seguinte poder rasgar todos os papelões e jogar no lixo. Ao chegar em casa adorei repetir o ritual. Tomei uma decisão especial ao ver aquele monte de papelão de duas cores indo embora: a partir daquele momento, apego... só pra vida e pra quem faz com que ela seja especial, a cada dia.

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